Educação do Campo: o que é e por que é importante?
por André Salina
A educação é um tema amplamente debatido por ocupar um espaço privilegiado na sociedade, sendo foco de investimento de políticas por compreender seu potencial transformador. Assim, para além do conhecimento puro, a educação dialoga com outras instâncias importantes do desenvolvimento humano, como a economia, a saúde, as relações pessoais, o respeito, dentre outros.
A escola, apesar de não ser a única instituição de educação, é apresentada na sociedade como a organização educativa por seu modelo de ensino e proposta de funcionamento. O acesso à escola, porém, é marcado historicamente pelas desigualdades sociais e econômicas; sendo recente as discussões sobre democratização do ensino e escola para todos. O modelo pedagógico tradicional é, portanto, marcado por estas desigualdades e pensado a partir das classes dominantes e intelectuais para atender aos seus interesses.
Contextualização da Educação do Campo
Como ressaltado anteriormente, a pedagogia e a instituição escolar são pensadas por atores específicos e se desenvolveu em um contexto particular: o urbano-industrial. Quando estes modelos foram implementados em outros contextos, porém, havia grandes dificuldades de promoção de aprendizagem, uma vez que a dinâmica social e produtiva não era a mesma. Outro ponto fundamental era a grande evasão de jovens do campo para as cidades em busca de educação e melhores condições de vida. Assim, assumiu-se uma série de perguntas relacionadas a educação: qual é o papel da escola? Para quem são as escolas?
A proposta de Educação do Campo surge, então, como contrapartida para o modelo tradicional de educação na tentativa de estabelecer um modelo particular de ensino para a população do campo. É através de políticas públicas, pesquisas, redes de ensino, dentre outros fatores, que se estabelece um vínculo maior entre os produtores rurais e as escolas, buscando uma forma de ensino-aprendizagem condizente com os valores e práticas tradicionais do campo.
Enquanto anteriormente os modelos educativos eram pensados exclusivamente pelos educadores tradicionais, isto é, pessoas com formações para isso (sendo a formação algo privilegiado e inacessível), as novas propostas compreendem a importância da inclusão da população nas discussões sobre educação. Por meio do diálogo entre educadores e produtores se estabelecem diretrizes que passam a aproximar a realidade campesina da proposta escolar e seu modelo de ensino.
As propostas da Educação do Campo
Assim, já como proposta particular de ensino, as discussões da Educação do Campo vão elaborar proposições e diretrizes para a atuação no contexto rural. As principais características são:
- Participação familiar no processo educativo: valorização da comunidade rural como pessoas construtoras de conhecimento, em especial o prático e produtivo;
- Pedagogia da alternância, ou seja, o respeito ao calendário produtivo local: adequação e organização das atividades escolares e educativas ao planejamento dos produtores locais, buscando promover experiências práticas e teóricas de aprendizagem.
- Vínculo dos saberes locais com a proposta pedagógica formal: estabelecimento de instrumentos didáticos e práticas pedagógicas que promovam o diálogo entre o local-específico e o científico.
- Valorização dos valores e tradições rurais: contemplar no projeto pedagógico a identidade rural e fomentar ações de valorização cultural do contexto campesino.
Concluindo
Diante de um contexto historicamente complexo para a população rural e de desigualdades na educação, emergem propostas de educação específicas que buscam romper com esta dinâmica pela valorização local. A Educação do Campo não se reduz a uma proposta pedagógica, mas a um conjunto de ações com impactos educacionais, culturais e produtivos, sendo a valorização tradicional o principal eixo de atuação.
Porém, novos desafios (ou oportunidades) aparecem conforme se desenvolve a sociedade. Outras reflexões devem estar presentes a partir de então: qual é a interferência das novas tecnologias de comunicação em populações tradicionais do campo? Como promover formação específica para a população? Como lidar com a expansão dos latifúndios em detrimento das pequenas propriedades?
São perguntas que vão suscitando cada vez mais reflexões sobre as propostas de Educação do Campo e instigando estes conhecimentos complexos para relacionar com as demandas da realidade rural.
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