Dia da Amazônia
Uma homenagem repleta de conexões
Dia 05 de Setembro, data escolhida com o propósito de relembrar o compromisso da preservação e proteção desse território tropical, berço de uma enorme biodiversidade planetária e lar de diversas culturas e etnias. A data é também um resgate de memórias. Dos contínuos conflitos e lutas pelos direitos básicos dos povos e seres vivos que nela habitam, pela valorização dos saberes tradicionais e dos modos de vida que, de diferentes formas, permitem a existência da floresta em pé.
Para homenagear de forma a dialogar com a população sobre o território e suas inter-relações com demais regiões do Brasil, compartilhamos por meio de relatos das pessoas recém instituídas no NAPRA, suas percepções e sentimentos sobre a Amazônia. São pessoas que nunca estiveram presencialmente no território do Baixo Madeira, mas sonham em conhecer, vivenciar, sentir e fazer parte de construções coletivas com as comunidades locais.
Quais são as conexões com a Amazônia que aproximaram você do NAPRA?
Natasha Fischer; Psicóloga, faz parte do GT Administração: “Eu penso que tenho a máxima conexão com a Amazônia, assim como com outras partes do Brasil; isso porque acredito que é preciso honrar o privilégio de ser brasileira. Privilégio, sim! Pela riqueza de culturas, histórias, povos e pela diversidade de fauna e flora.
Mas, mais do que honrar o privilégio, acredito que também por ser humana e branca, preciso me redimir com a natureza e com os povos indígenas. Como humana, porque se usarmos nossa potência para destruição, como viemos fazendo, somos capazes de derrotar uma natureza que funciona maravilhosamente bem; e como branca, pela nossa história e histórico com os povos indígenas.
O Napra me contempla cada vez mais com o pensamento simples de que para qualquer ação fazer sentido é preciso escutar antes. Acredito que a escuta é uma ferramenta essencial para um mundo menos violento e destruidor.”
Yahisbel Adames; Jornalista, faz parte do GT Comunicação: “Com o NAPRA aprendi a desmistificar a Amazônia. Antes, como muitas pessoas, eu pensava nessa região como um lugar misterioso e inexplorado – o que não é nem um pouco a realidade atual. A floresta é mágica, mas não pelo que não sabemos dela, e sim pelo que já se conhece. Ou melhor: pelo que os povos com tecnologias além do nosso imaginário, que já habitaram e continuam a habitar ali, sabem e vivem na pele.
A Amazônia não é um território vazio, terra de ninguém esperando para ser salva. Ela é sagrada justamente pela sua capacidade auto-suficiente de se regenerar. De se manter viva. De se manter em pé. De ser lar para tantos que sabem coabitar com ela de forma equilibrada e justa.
Somos nós, desde os caboclos até os urbanos, que precisamos dela – não ela de nós. Somos nós que precisamos abaixar a cabeça e ouvir o que ela tem a nos ensinar, não chegar lá como donos da verdade, descobridores da pátria e senhores da razão – este papel nossos ancestrais portugueses e espanhóis tentaram bancar e falharam miseravelmente. Humildade. E admiração. Essas são as principais lições que tiro ao estudar sobre a Amazônia. Uma grande mestra silenciosa. Um lembrete de uma força que existe dentro de mim e de todos nós: da natureza selvagem e sem fim.”
Lucas Tadiello; graduando em Ciências Sociais, faz parte do GT Captação: “Pensar a Amazônia e os povos que nela vivem, já era algo que me enchia de curiosidade ainda antes de entrar no NAPRA. Para além de compreender a realidade daquele espaço e dos diversos modos de vida que fazem parte dele, meu interesse estava no modo que temos pensado este espaço sem estarmos nele.
Assim, ao entrar no NAPRA e entrar em contato com diferentes modos de pensar a floresta e seus povos a partir das formações, pude perceber que o imaginário que carregava acerca dessas questões eram por vezes irreais e distantes. O que me proporcionou diversas reflexões e um impulso de buscar entender a realidade desta região. Assim, hoje entendo que entender a Amazônia também é me entender, primeiro por fazer parte do território nacional e da América Latina, entendo que desenvolver um olhar crítico e real sobre toda a região seja de alguma forma entender um pouco da minha história, do que me mantém e do que me move.
E aí entra a Amazônia e sua totalidade, pois entendo que o desejo da manutenção da floresta com todas suas complexidades é um ato revolucionário e necessário. Necessário porque dela dependemos, e revolucionário porque, dentro de um sistema que impossibilita a preservação da natureza, dos povos tradicionais e de suas culturas, lutar por ela é um ato político.
Deste modo, por mais que o pensar a Amazônia e os povos tradicionais que dela fazem parte carregam um certo interesse de minha parte há algum tempo, foi no NAPRA que pude compreender que nosso olhar sobre este espaço era distante, e que, estando no sudeste, todo contato que havia tido com a Amazônia e sua diversidade estavam no fato de pensar ela enquanto um local místico e ainda desconhecido. Entretanto, ela é, inevitavelmente, muito mais que isso.”
É interessante observar como essas percepções vindas de pessoas de áreas diferentes, com formas de expressão divergentes entre si, dispõe do mesmo sentimento de ir além da curiosidade do desconhecido, e sim ao respeito e propósito de uma busca pela valorização e desmistificação do território em sua totalidade e diversidades presentes. Acreditamos que o processo de formação sobre a Amazônia, a partir de uma perspectiva crítica e reflexiva, possibilita a busca pela preservação socioambiental desse território tão abrangente de culturas e biodiversidade. E refletir sobre as dinâmicas passadas e atuais que compõem a Amazônia é muito mais potente no coletivo.